quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O negro entra na universidade

A entrada do negro no ensino superior aumentou bastante nos últimos anos.
No Brasil, a história de seus conflitos e problemas envolveu bem mais do que a formação de classes sociais distintas por sua condição material. Nas origens da sociedade colonial, o nosso país ficou marcado pela questão do racismo e, especificamente, pela exclusão dos negros. Mais que uma simples herança de nosso passado essa problemática racial toca o nosso dia-a-dia de diferentes formas.
O surgimento do racismo científico no século XIX e seus respectivos desdobramentos na política e na sociedade do período tem sido assunto amplamente debatido entre os historiadores, sociólogos e antropólogos.
Sobrepondo-se aos dogmas religiosos reinantes até então, as teorias raciais deram “status” científico às desigualdades entre os seres humanos e através do conceito de “raça” puderam classificar a humanidade, fazendo uso de sofisticadas taxonomias.
O tema raça é constantemente revisitado, sobretudo quando se trata de questões como o mito da democracia racial, as desigualdades entre negros e brancos e o recente debate em torno das cotas raciais nas universidades públicas, “O Brasil precisa de lideres negros, mas não para ontem ou para manhã e sim para o hoje, pois os nossos jovens precisam ter em quem se espelhar”, fala a doutora em Educação da UNB Renísia Cristina.
É preciso ter claro que um olhar mais atento para os negros não significa beneficiar um segmento em detrimento de outro. Refere-se a tratar o desigual “já que é assim que o negro vem se constituindo historicamente”, como desigual, por um período de tempo, para que, no futuro, se possa de fato e de direito galgar a igualdade.
Inserir os negros na análise dos dados, sem intérpretes, torna se fundamental para se compreender com mais profundidade a especificidade da situação de racismo a que estão submetidos dia após dia. Infere-se, dos dados analisados, que há tratamento diferenciado para negros e brancos no espaço escolar e no mercado de trabalho, e que esse não é um fenômeno recente.
 A constatação do preconceito e da discriminação baseada no pertencimento racial, enquanto processo estruturante e constituinte na formação histórica e social brasileira, consequentemente, no imaginário social brasileiro, demandou que houvesse um diálogo entre presente e passado, “Infelizmente a universidade busca evitar esse debate. Ela não conseguiu até hoje superar essa questão, considerando que desde a abolição no Brasil já se vão quase 115 anos, e considerando que as universidades brasileiras vêm ali dos anos 40. A gente tem uma dificuldade muito grande de construir uma problematização sobre isso, estando à universidade inserida no seio da sociedade brasileira” completa a Doutora.
Atualmente, o acesso à universidade pública se dá por meio de um processo de seleção no qual a maior parte dos aprovados são estudantes egressos de escolas privadas ou que possuem recursos necessários para o custeio de cursos preparatórios ao exame de admissão.
Como sabemos, a população negra é maioria da população pobre e/ou miserável de nosso país, o que cria uma dinâmica de inversão proporcional no processo de inclusão no ensino superior público no Brasil. Defender a presença cada vez maior e efetiva de negros e negras na universidade pública brasileira, para nós, é positiva, imprescindível e estratégica para combater o racismo e fortalecer o processo democrático.
O sistema educacional, políticas curriculares e bases teóricas que fundamentam a produção cientifica no Brasil são construídas a partir de bases e referencias eurocentradas, não respeitando a diversidade étnica que compõe a realidade da população brasileira.
“Não somos alheios ao fato de que a igualdade formal, tão cara à concepção de Estado moderno, que visa a consagrar a igualdade de todos e todas perante a lei, não é aplicada em sua acepção prática, não correspondendo com o real sentido de sua existência” completa o Geopolítico e Pesquisado do Movimento Negro Geri Nogueira.
É papel da universidade fomentar a importante e indissociável articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão, exigência intrínseca para a constituição de um centro de ensino que, de fato, exerça a sua função de produzir conhecimento e tecnologia de fato úteis para a sociedade brasileira.
Uma universidade que, aliando a prática pedagógica e a produção do conhecimento científico, não se ativer ao novo momento histórico que vivemos, diferente e desafiador, e que cada vez mais reclama para si a busca pelo fortalecimento da democracia, não terá êxito na sua missão de transformação e contribuição para a instauração de uma nova consciência e fortalecimento da cidadania.
A efetiva e militante presença dos negros e negras na universidade pública garantirá um redirecionamento no processo de produção cientifica, na elaboração de matrizes curriculares democráticas e em um processo extensionista cada vez mais comprometido com a classe trabalhadora, “Assim como é importante a inclusão dos negros e negras nos bancos escolares do ensino superior, também se faz necessário e imprescindível para a universidade a presença e permanência destes” diz o Pesquisador.
Em um momento futuro, a ocupação quantitativa que queremos promover ao defender a políticas de cotas raciais nas universidades públicas se reverberará em uma maior participação dos negros e negras nos espaços de tomada de decisão e, consequentemente, na definição de rumos verdadeiramente democráticos e republicanos para a sociedade brasileira.
Defender em alto e bom som a política de cotas raciais nas universidades públicas é trazer à tona, em todo o Brasil, que ele é um país racista. A defesa das cotas é carregada de forte simbolismo, visando a quebrar com uma dinâmica de manutenção do poder sustentada pelo mito da democracia racial.
Para que, de fato, possamos superar as distorções sociais gestadas pelos ideais racistas, é necessário compreendê-lo para que a sua superação seja definitiva. Esse processo de compreensão nos traz a relação dialética entre as lutas raciais e a luta de classes.

Kelly Ramos Soares   RA: 3233549414
Rafaela Mendes      RA: 0991025062
Thamara Martins   RA: 0991025515

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